quarta-feira, 28 de março de 2012

PIXILATION




Trecho do meu trabalho de conclusão de curso na habilitação de desenho na EBA - UFMG / 2003. No qual falava sobre minha pesquisa a repeito da técnica de animação, pixilation.  Essa pesquisa levou a realização do trabalho " Se estou certo Porque meu coração bate do lado errado?" (2003).



2.1_ANIMAÇÃO EM VÍDEO E SUAS POSSÍBILIDADES

O experimentalismo se apresenta no vídeo ou dentro do conceito de vídeo expandido, como uma de suas características mais expressivas, papel que antes do surgimento da captação de imagens pela fita magnética, era do chamado “cinema independente”. Muitos desses realizadores acabaram por abraçar o vídeo como outra opção estética ou talvez pelo baixo valor de produção. No contexto do cinema independente apareceram nomes como o de Andy Warhol, e suas propostas de fazer filmes em tempo real, Hélio Oiticica e sua idéia do “Quase cinema”. Outro cineasta experimental, o animador escocês radicado no Canadá, Norman McLaren, talvez seja o maior explorador da linguagem da animação.

A primeira lembrança que vem a mente quando se fala de animação, são os da técnica cell animation (filmagem seqüencial de personagens pintados sobre acetato), que foi imortalizada com o “padrão Disney”, de onde deriva quase toda animação comercial, como, o Pernalonga, os Flinstones e a Pantera Cor de Rosa. O termo “Animação Experimental” é usado para todas os outros tipos de técnicas e encontraram seu refugio principalmente em produções autorais, sustentadas muitas vezes por incentivos estatais,  como experiências do leste Europeu, e da National Filme Board do Canadá. Neste contexto, Norman Mclaren e os outros animadores da escola canadense se tornaram provavelmente um dos grupos mais inovadores da história da animação.

Meat Love / Jan Svankmajer http://www.jansvankmajer.com/
                          Jan Svankmajer, Mestre da animação do Leste Europeu.



“Explorando toda as possibilidades de animação que estiveram ao seu alcance, McLaren não só criou e desenvolveu novas maneiras de animar, como também, realizando sozinhos suas obras aproximou o trabalho do animador ao do artista plástico contemporâneo  e do músico de vanguarda.”                                                                                  (SMIRKOFF:1996.122)

No começo Mclaren se destacou por raspar com um objeto cortante, a emulsão de prata, ou pintar manualmente sobre a película virgem, quadro a quadro, esses filmes sem câmeras por vezes chegavam a ter 7000 desenhos minúsculos, que quando projetados criavam um estranho e hipnótico balé de formas abstratas. No decorrer desse processo, ele teve a idéia de tentar desenhar com uma canetinha sobre a faixa de som virgem, o resultado foi a criação de um som totalmente sintético.


Norman McLaren

            Dialogando com diversas técnicas de animação, o Pixilation (junção das filmagens de atores com o Stop-motion, animação de bonecos) talvez seja a técnica em que Norman Mclaren tenha se destacado, a ponto de levar o Oscar de melhor curta de animação por “Vizinhos” (Neighborhoods – Canadá, 1952). No filme dois vizinhos se enfrentam pela posse de uma flor que nasce entre suas casas.  Este combate surreal onde os personagens e os objetos de cena se comportam como nas regras  do universo mágico dos desenhos animados, onde tudo é permitido, os vizinhos voam, se deslocam pelo solo deitados, sentados, de pé. Uma cerca de ripas de madeira se monta e desmonta sozinha, assim como a flor, motivo de toda intriga, se desloca por todo gramado.


Neighbours / Norman McLaren  http://www.nfb.ca/


Animação trabalha com possibilidade de compor quadro a quadro todo conteúdo de uma obra. Um quadro ou frame de uma película de cinema corresponde a vinte quatro avos de um segundo, ou no caso do vídeo corresponde a um, trinta avos, sendo estas as menores unidades de tempo com que o cinema e o vídeo trabalham. O fato que para animar uma ação, ela deve ser construída a cada quadro como parte de um todo, revela a possibilidade do controle absoluto do tempo e do ritmo de uma obra.

Para o cineasta russo  Tarkovisk, o bom diretor é aquele que durante a montagem de seu filme sabe tirar proveito do ritmo interno de cada cena: “Minha  tarefa profissional é criar meu fluxo de tempo pessoal, e transmitir na tomada a percepção que tenho do seu movimento (...) que cada pessoa sentirá a seu modo.” (TARKOVISK:1996 p.144).  Para ele a montagem cria uma distorção nesse tempo, que é uma maneira de dar expressão rítmica, ou como o próprio título de seu  livro diz “Esculpir o tempo”.  “A medida que em que a montagem é determinada pelas pressões rítmicas nos segmentos do filme, a marca pessoal do diretor é percebida na montagem”(TARKOVISK:1996 144,145). Para o animador essa tarefa é ainda mais difícil, pois para “esculpir o tempo” ele tem que partir de “tijolos” para erguer o muro. O animador não tem um ritmo estabelecido pelas tomadas, ele tem que imaginar e dar forma ao ritmo do nada  para cada uma delas. Isso confere ao bom animador uma responsabilidade ainda maior diante de sua obra, exigindo dele uma capacidade de entendimento do fluxo rítmico do filme absoluta.




Outro animador que deve ser lembrado é o Francês Émiele Cohl,  que é considerado como o mais antigo realizador de animação que se tem notícia. Além da animação tradicional, Cohl se utilizava de objetos do cotidiano, dando-os vida, possivelmente ele veio a criar muito dos artifícios usados por McLaren em seus filmes. Em “Mobilier fidèle” (1910) um caminhão de mudança estaciona de fronte a uma casa, a porta traseira se abre, uma rampa sai, possibilitando que todos os móveis possam sair por conta própria de dentro da carroceria. Em seguida cadeiras, mesas, arcas, etc... tomam seus devidos lugares na decoração da casa. Lembrando que no período chamado pelos estudiosos do cinema de “early-cinema”. Período esse que vai da criação dos os brinquedos ópticos e seu desenvolvimento que possibilitou a criação do primeiro protótipo de projeção de película até o desenvolvimento da linguagem clássica do cinema por D.W. Griffti. Nesse contexto a animação era muito precária devido ao alto custo de produção exigido para um filme. Esta peça feita na técnica “stop-motion” de Émile Cohl demonstra um alto grau de refinamento técnico, assim como um fascínio estético que o tornam uma obra prima.

William Kentridge

O artista plástico o sul-africano, William Kentridge, faz uso da animação, como meio de expressão em seus trabalhos plásticos. Seus vídeo destacam-se pelo fato de usar uma única superfície como suporte. Após fotografar o desenho, ele apaga a área do desenho onde fará outro desenho que insinuará o movimento. A sucessão de desenhos apagados,  deixa um rastro de sujeira sobre o papel. Vídeo artistas como Kentridge reforçam ainda mais que o vídeo é uma linguagem, muito flexível, abrangente e de possibilidades infinitas a serem exploradas por aqueles que nela se aventurarem.




Segue uma seleção de filmes que exploram o pixilation criativamente  em toda sorte possiblidades e que eu amo


Roof Sex / P.E.S. 
http://www.eatpes.com/
Conheci o site www.eartpes.com a uns 10 anos, quando procurava noticias sobre Roof Sex na intenrt. Vale a pena conferir todos os vídeos do cara.

                    http://www.youtube.com/watch?v=1aodpb3vFU0



Gisele Kerosen /  Jan Kounen 
http://www.jankounen.com/
Diversão garantida inspirada no surrealismos dos quadrinhos franceses, a sacada do voo nas vassouras de bruxa é o ponto alto do vídeo.



Topic I et II, Part I / Baes Pascal
 http://www.youtube.com/user/Baespascal/feed
Baes Pascal realiza uma sombria mistura entre dança e animação tendo a belíssima cidade de Praga como cenário.


Stone Flag / Robin Rhode 
http://www.artthrob.co.za/99nov/artbio.html
Esse famoso artista plástico sul-africano trabalha com animação construindo através dela toda potência de sua poética. 



Hardest Button to Button/ Michel Gondry
 http://michelgondry.com/
Gondry despensa aprenstações, esse video é só uma amostra da fantástica mistureba de técnicas de trucagens cinematográficas e animação que fizeram dele um clássico no universo do video clipe e no cinema.



Her Morning Elegance / Oren Lavie 
http://www.orenlavie.com/
Esse vídeo fez um sucesso na internet um tempo atrás, acho legal como as soluções simples de fotografia e a cenografia  deixa o vídeo interessante.


Big Bang Big Boom / BLU 
 http://www.blublu.org/
BLU mescla a arte de intervenção urbana com animação.






Process Enacted / Jordan C Greenhalgh 
https://vimeo.com/user2886619
Esse filme explicita sequenciação de imagens como elemento narrativo.





BIBLIOGRAFIA


BAMBOZZI, Lucas – Media art, interfaces e interatividade. Sinopse Revista de Cinema, São Paulo, anoIII, n° 7, pág37-39. Agosto 2001

BENJAMIN, Walter - A obra de arte na época de suas técnicas de reprodução . In: Benjamin, Adorno, Horkheimer e Habernas. São Paulo: Ed. Abril Cultural, 1980. p. 03 – 28. (Coleção Pensadores)
 
Catalogo Exposição Território do Invisível. Centro Cultural do Banco do Brasil, Rio de Janeiro 1994.
 
CRUZ, Roberto Moreira dos S. – Video expandido: Participação e interatividade em vídeo-instalações. Sinopse Revista de Cinema, São Paulo, anoIII, n° 7, pág34-36. Agosto 2001.

DANTAS, Marcello. In: Catálogo da exposição  Território do Invisível. Centro Cultural do Banco do Brasil – Rio de Janeiro 1994 

MACHADO, Arlindo – “A arte do vídeo” São Paulo, Ed. Brasiliense, 1998.

MACHADO, Arlindo – As três gerações do vídeo brasileiro. Sinopse Revista de Cinema, São Paulo, anoIII, n° 7, pág22-33.  Agosto 2001

MACHADO, Arlindo(Org). Made Brasil: Três décadas do vídeo brasileiro. São Paulo. Itaú Cultural, 2003

MACHADO, Arlindo. Pré-cinema e pós-cinema. Campinas. Ed. Papirus, 1997.

MORENO, Antônio – História do Cinema de Animação Brasileiro In: FALCÃO, Antônio Rebouças, et.al. Coletânea Lições com Cinema: Animação. São Paulo: FDE, Diretoria de Projetos Especiais, 1996.

SMIRKOFF, Marcos - Animação Experimental e Independente In: FALCÃO, Antônio Rebouças, et.al. Coletânea Lições com Cinema: Animação. São Paulo: FDE, Diretoria de Projetos Especiais, 1996.

TARKOVSKIAEI, Andreaei Arsensevich. Esculpir o tempo / Tarkovski; (Tradução Jefferson Luiz Camargo). São Paulo: Matins Fontes, 1998.

TULARD, Jean. Dicionário de cinema: v. 1 Os diretores/Jean Tulard; tradução de Moacyr Gomes Junior; atualização Goida. Porto Alegre. L&PM, 1996.

VIOLA, Bill.  Bill Viola / Edited by Alexander Puhringer ; with essays by Friedemann Malsch [et al.]; and a conversation between Bill Viola, Otto Neumaier and Alexander Puhringer. – ed. Salzburger, Austria : Kunstverein, c1994. 

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